sábado, 14 de julho de 2012


Xica da Silva


No dia 16 de setembro de 1996, entrou no ar a novela que traria de volta a Manchete para o terceiro lugar no ranking da televisão brasileira. Com uma programação extremamente popular e tendo como sua base programas jornalísticos, a Manchete parecia estar se recuperando de suas crises.

A direção da emissora estava decidida a investir em tramas adapatadas de obras literárias de grande sucesso. Procurando uma novela forte, que mantivesse a audiência de "Tocaia Grande", Walter Avancinni pensou primeiramente em desenvolver uma novela derivada de três livros de Machado de Assis, projeto nomeado internamente como "Paixão". Mas apesar da força apresentada pela sinopse central, a novela ficaria muito cara, extrapolando o orçamento disponível. A direção da TV, então, passou para a segunda opção: uma adaptação do romance "Xica que manda", de Agripa Vasconcellos, cuja estória central, além de forte e atraente, ia de encontro à crescente tendência de movimentos de valorização da cultura afro no Brasil.


Chamada de estréia de Xica da Silva
Sendo assim, Avancinni começou o que seria para ele "a superprodução da década de 90". Várias cenas foram gravadas em Minas Gerais, mostrando a natureza de rara beleza da região da chapada da Diamantina. Mais uma vez algumas das armas utilizadas para chamar a atenção do público foram o  erotismo e a forte retratação histórica, com a tradicional riqueza de detalhes das produções de época da Manchete. Para tanto, a emissora investiria em torno de 6 milhões de dólares e uma cidade cenográfica foi erguida em Maricá, onde estaria retratada a cidade do "Arraial do Tijuco".

Tudo pronto para o início das gravações e ainda faltava um importante detalhe: a escolha da protagonista. Depois de uma rigorosa seleção por todo o país, o diretor descobriu que sua "Xica da Silva" estava ali mesmo, dentro da emissora. Tratava-se de Taís Araújo, que terminava as gravações de "Tocaia Grande", onde vivia a personagem Bernarda.

Mesmo muito nova para o papel(a moça tinha 17, enquanto a personagem tinha por volta de 25), Taís surpreendeu, ganhando projeção nacional e sendo reconhecida pela crítica. No papel de sua mãe estava Zezé Mota, que vivera, nos anos 70, a Xica do cinema.

Xica da Silva teve médias em torno dos 18 pontos, com picos de 22, garantindo o segundo lugar de audiência, e recolocando a Manchete na terceira posição do ranking geral da TV Brasileira. A novela foi exportada para diversos países.

Um dos fortes momentos da novela aparece quando Maria, mãe de Xica, é morta, tendo seus braços e pernas amarrados a quatro cavalos que, assutados por um tiro disparado pelo sargento-mor, correm em direções contráias, esquartejando o corpo da negra em plena praça pública. Além dessa, as cenas que envolviam as bruxarias de Benvinda(Miriam Pires) e Violante(Drica Moraes) também não economizaram em tecnologia e realismo.


Abertura original da novela
As protagonistas deram um show à parte. A antagonista branca e amargurada Violante, foi interpretada de forma exemplar por Drica Moraes, que com o papel, provou não saber fazer apenas comédia. A protagonista negra também foi interpretada com brilhantismo por Taís Araújo, que surpreendeu a todos, sendo, até então, uma atriz deconhecida para muitos.

As cenas de nudez ganharam destaque na trama. Adriane Galisteu foi quem mais apareceu nessa condição. Sua personagem Clara vivia semi-despida perambulando pelos riachos da chapada. Taís Araújo, por sua vez, durante alguns meses não tinha idade sufieciente para aparecer nua. Mas quando ela fez 18 anos, Wlalter Avancinni comemorou, e o assunto foi, inclusive, capa da revista Manchete ("Xica da Silva faz 18 anos").

A novela contava ainda com um enorme clima de suspense por trás das câmeras. O diretor Walter Acancinni escondeu, durante muito tempo, a identidade do autor da novela. Especulava-se, na época, que poderia ser algum autor famoso de outra emissora, que estaria usando o pseudônimo de Adamo Angel. O suspese começou porque ninguém nunca tinha ouvido falar no tal autor, e a qualidade do texto demonstada intrigava os profissionais do setor. A identidade só foi revelada meses depois. da estréia. Adamo era, na realidade, Walcyr Carrasco, funcionário do SBT, que acabou sendo recontratado pela emissora de Silvio Santos como autor titular de novelas, lançando em 1998 a novela Fascinação (com Regiane Alves).

"Xica" chegou ao fim no dia 18 de agosto de 1997, ficando ao todo por 11 meses no ar. Contou ainda com participações especiais, como a da atriz italiana Cicciolina, além de Sérgio Viotti, Sérgio Brito, Lu Grimaldi e Ângela Leal, entre outros.


Clipe de relançamento de Xica da Silva, pelo SBT em 2005
A novela foi comprada pelo SBT em 2004, das mãos de Pedro Jack Kapeller, que ainda possuia boa parte do acervo da Manchete em seu poder. Os programas produzidos a partir de 1995 pertencial teoricamente à Bloch Som & Imagem, uma empresa que não foi à falência com a TV Manchete. Silvio Santos recorreu a novela da Manchete para tentar frear o crescimento da Record, que fazia sucesso com a novela Escrava Isaura. Xica foi reexibida na faixa das 21h15 e alavancou a audiência do canal com médias de 15 pontos, garantindo o segundo lugar isolado. O canal tentou camuflar a informação de que a novela tinha sido produzida por outra emissora, e relançou a novela com uma nova abertura e uma nova música-tema.

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