sábado, 14 de julho de 2012


O Marajá - A novela proibida


Logomarca Oficial da novela ''O Marajá'', produzida pela TV Manchete em 1993 e censurada por Collor! Minissérie da Manchete que contava, em tom de sátira, como foi o impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, que acontecera um ano antes, em agosto de 1992. Proibida de ir ao ar pelo próprio presidente, que se sentiu ofendido pelo texto, as fitas "sumiram" da emissora.

Cada personagem aludia a um personagem da vida real: André (Alexandre Borges) ao piloto de P.C. Farias, Jorge Bandeira; o motorista (José Dumont) ao motorista de Collor, Eriberto França; Felícia (Jussara Freire) à Denilma Bulhões, ex-mulher do ex-governador de Alagoas; a "certa atriz de coxas grossas" (Lúcia Canário) à atriz Cláudia Raia, que apoiou ostensivamente Collor em 1989. O próprio "Plano 2020" era uma referência ao "Plano 2000" que pretendia manter Collor no poder por mais 5 anos (na minissérie são 30 anos).

Prevendo que haveria processos por parte de Collor, Adolpho Bloch, o presidente da Manchete, contratou uma advogada para auxiliar os autores José Louzeiro, Regina Braga e Alexandre Lydia na tarefa de escrever a história, evitando complicações com a Justiça. Assim, Collor virou Elle. O personagem é o presidente de um país fictício que arma um esquema para se manter no poder por 30 anos. "Era um conceito revolucionário. Uma mistura de jornalismo com dramaturgia. Apresentávamos uma cena inacreditável e depois provávamos a veracidade com um depoimento", diz Louzeiro.

Mesmo com todo o cuidado e auxílio jurídico, a estréia, marcada para 26 de julho de 1993, não aconteceu. O Marajá foi proibida. O ex-presidente alegou que considerava sua honra arranhada pelas cenas da minissérie. Após meses e uma guerra de liminares, uma decisão judicial favorável a Collor selou o destino da obra. "A história toda nos mostrou que, mesmo depois do impeachment, Collor ainda tem poder, já que foi capaz de censurar uma obra antes de ela ser exibida", lamentou Alexandre Lydia, um dos roteiristas.

Há, até aqui, somente uma pista do paradeiro das fitas. O ex-diretor-geral da Manchete, Fernando Barbosa Lima, afirma que o próprio Adolpho Bloch decidiu guardar as fitas, com medo que elas fossem roubadas, e a Manchete, prejudicada. "Ele ficou assustado com o poder de Collor", conta Barbosa Lima, que era amigo de Bloch.

A história é contada por um narrador, um repentista e uma fofoqueira, na tentativa de se comunicar com públicos diferentes. O resultado é confuso. São idas e vindas entre depoimentos jornalísticos, dramaturgia e os narradores. Embora centrada em Elle, a protagonista de O Marajá é a jornalista Mariana (Júlia Lemertz).

No dia em que O Marajá estrearia, autores, diretores e atores se reuniram num jantar, no prédio da Manchete, no Rio, para esperar juntos, a hora em que o capítulo iria ao ar. Ficaram surpresos com a proibição da exibição da obra.

Júlia Lemertz disse que viveu na época das gravações de O Marajá uma situação kafkiana. "Nós fomos a sessões em que o direito de exibição da novela ia ser julgado e víamos aqueles homens de toga, debatendo, sem que pudéssemos dizer nada. Me senti em plena ditadura", conta. "Foi muito frustrante, porque a defesa da Manchete foi malfeita e, quando eu aceitei o papel, me disseram que a emissora estava calçada juridicamente".

Outro adjetivo veio à mente de Regina Braga, que ajudou José Louzeiro a escrever os primeiros cinco capítulos. "Estou perplexa. A proibição da novela foi uma violência à liberdade de expressão, mas essa história do desaparecimento das fitas foi demais", disse, sem esconder a surpresa. Alexandre Lydia, outro dos autores, ficou decepcionado. "Esse desaparecimento combina com toda a história da proibição da minissérie, que foi muito estranha", afirma. "É um trabalho enorme que fizemos com o maior empenho e nunca foi mostrado", completa.

Marcos Schechtmann, o diretor da minissérie, envolveu-se muito com o projeto na época. "Fomos censurados sem que ninguém visse os capítulos gravados ou escritos", diz. "É óbvio que eu gostaria de ver a minissérie exibida um dia, mas agora é passado, já consegui aceitar".

O ator Hélcio Magalhães, que fez Elle, a sátira de Collor, não escondeu a decepção. "Foi um trabalho de composição minucioso que eu fiz e que ninguém teve a oportunidade de ver".

ESCÂNDALO TRÊS ANOS DEPOIS

Após a morte de Pedro Collor, as fitas da novela desapareceram dos arquivos da Manchete. O escândalo foi denunciado pelo jornal "A Folha de São Paulo". Pedro Jack Kapeller, então presidente da Manchete, afirmou, na época, que Adolpho Bloch teria guardado as fitas em local seguro no momento que a novela foi censurada, em 1993.

Atualmente Hélcio Magalhães trabalha como fotógrafo, pois diz que sua carreira de ator fora muito prejudicada com as comparações ao ex-presidente.

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