sábado, 14 de julho de 2012


Brida não decola e esgota os recursos da Manchete.


Brida estreou no dia 18 de agosto de 1998. Recheada de efeitos especiais e baseada no best-seller de Paulo Coelho, a novela prometia ser mais um sucesso de audiência da Manchete. Protagonizada por Carolina Kasting, foi dirigida por Walter Avancinnni e adaptada por Jayme Camargo.

O fato do livro lançado por Paulo Coelho ter sido um grande sucesso de vendas- na época da estréia da novela ele já havia sido lançado 86 vezes- excitava a emissora a investir na novela. Brida tinha um custo caro para os padrões da Manchete. Mesmo não sendo uma novela de época, os recursos que precisavam ser utilizados se mostraram dispendiosos.
Mesmo com tantos entraves, a direção da Rede decidiu arriscar. Terminava a novela Mandacaru, de figurino pobre, e entrava no ar Brida, que contava com roupagem e cenários raquintados. Tudo isso era necessário porque a novela se passava num ambiente de alta sociedade.


Abertura da novela


A história começa na Irlanda do século XVII. Brida fugia das maldições de um bruxo. Passados 300 anos, o bruxo continua perseguindo a moça, a única que tinha poderes capazes de destruí-lo. Nessa encarnação, Brida é filha de uma família abastada e noiva de Lorens, interpretado por Leonardo Vieira. Seu pai é um dos sócios de uma importante empresa da qual seu mago arquirival é um dos principis empregados. Sem saber que o braço direito de seu pai é, na realidade, um bruxo que a atormentara em encarnações passadas, a moça vai passar pelos mais variados perigos em suas mãos.


Entre os atores, se destacaram: Rubens de Falco, Carolina Kasting, Leonardo Vieira, Fafy Siqueira, Tânia Alves, Carla Regina e Othon Bastos.

Podemos classificar a evolução de Brida, como sendo a própria evolução da Manchete. A novela entrou no ar com um custo alto e além disso, os patrocinadores tinham um contrato de risco com a emissora. De acordo com esse contrato, só haveria patrocínio, caso a novela passasse dos 5 pontos de audiência. A previsão da emissora era de que a novela atingisse 10 pontos, mas a audiência estacionou nos dois .


Sem patrocínio, a Manchete ficava no prejuízo. Mesmo recorrendo às velhas fórmulas para alavancar a audiência, como muito erotismo, e convocando artistas conhecidos da casa, como Victor Wagner, Carla Regina e Tânia Alves, a audiência não subiu. Brida significava o desperdício do que poderia ter sido uma ótima história, e a conseqüência de uma situação econômica lastimável de nosso país.


Aliado aos problemas da novela, os juros das dividas da Manchete cresceram junto com as taxas de todo o resto do país. A situação de nossa economia era bastante ruim, o que espantava os investidores.


Em outubro de 99 o elenco da novela entrava em greve por falta de salários. O vice-presidente da emissora confessou ao elenco "que o fracasso da novela esgotou os recursos da empresa". Sem ter o que fazer, a direção da rede decidiu tirar a novela do ar na sexta-feira da mesma semana. Anúncios da reestréia de Pantanal começavam a ser exibidos. Sem anunciar o horário de exibição, muitos acreditaram que se abriria um novo horário de novelas. Um final narrado pelo locutor oficial da Rede, Eloy De Carlo, foi improvisado e levado ao ar, naquela sexta-feira na qual poucos imaginavam o que estava acontecendo. Ninguém sabia ao menos se a novela voltaria ao ar na segunda-feira seguinte.


Nesse momento, pôde-se perceber a exata noção da situação da Rede Manchete. Juntamente com o fim da novela, o restante da programação da emissora também se esvaziava.

O "final" de Brida
23 de outubro de 1998, sexta-feira e os poucos telespectadores que ainda assistiam Brida (a novela atingia média de 5 pontos, mesmo recheada de cenas de nudez) não imaginavam o que estava por vir.

No intervalo comercial, foram exibidas as primeiras chamadas da reprise de Pantanal. O espanto ficava por conta do horário anunciado: "a partir da próxima segunda, logo após o Jornal da Manchete". A dedução natural era que Brida seria empurrada pra faixa das 22h30.

O capítulo se desenrola e, de repente, entra a voz de Eloy De Carlo, o locutor oficial da Manchete, resumindo o que aconteceria dali pra frente na trama, com imagens antigas da própria novela. Um espanto! A novela tinha, simplesmente, acabado naquele momento, no 54o capítulo.

 Mandacaru


Mandacaru estreou no dia 18 de agosto de 1997. A história era baseada na vida do sertão nordestino e nas aventuras dos cangaceiros. Contando com boa parte do elenco de Xica da Silva, não conseguiu atingir o sucesso da anterior, atingindo uma média de 7 pontos de audiência. Permaneceu no ar até o dia 10 de agosto de 1998, quase 1 ano depois da estréia. Seu fim estava previsto para o mês de abril, mas a emissora resolveu prolongar a novela, porque o período posterior à Copa seria mais propício para estrear Brida.

Para alavancar a audiência da novela, o diretor Walter Avancinni se vários recurosos, entre eles, a participação de Marília Pêra, Agildo Ribeiro, Elba Ramalho, Alexia Dechamps e Antônio Grassi. Além desses, valorizou o hilário personagem Zebedeu, de Benvindo Siqueira, dando um toque de humor à novela e segurando a audiência.

Analisando Mandacaru, percebemos que a história central inicial deu lugar a uma nova história. Nessa nova história, Zebedeu tornou-se protagonista, Juliana virou coadjuvante, e atores como Ângela Leal(Olívia, mãe de Juliana) e Jonas Mello quase não apareciam. Este último acabou morrendo no meio da novela. A trama tornou-se engraçada e a equipe soube manter a novela, sem deixar que ela caísse na chatisse. Afinal, nossos telespectadores não estão mais acostumados a assistir uma novela durante doze meses.

A novela foi reprisada em 2007 pela Band, às 22h, com médias de cinco pontos de audiência.


Abertura de Mandacaru

Xica da Silva


No dia 16 de setembro de 1996, entrou no ar a novela que traria de volta a Manchete para o terceiro lugar no ranking da televisão brasileira. Com uma programação extremamente popular e tendo como sua base programas jornalísticos, a Manchete parecia estar se recuperando de suas crises.

A direção da emissora estava decidida a investir em tramas adapatadas de obras literárias de grande sucesso. Procurando uma novela forte, que mantivesse a audiência de "Tocaia Grande", Walter Avancinni pensou primeiramente em desenvolver uma novela derivada de três livros de Machado de Assis, projeto nomeado internamente como "Paixão". Mas apesar da força apresentada pela sinopse central, a novela ficaria muito cara, extrapolando o orçamento disponível. A direção da TV, então, passou para a segunda opção: uma adaptação do romance "Xica que manda", de Agripa Vasconcellos, cuja estória central, além de forte e atraente, ia de encontro à crescente tendência de movimentos de valorização da cultura afro no Brasil.


Chamada de estréia de Xica da Silva
Sendo assim, Avancinni começou o que seria para ele "a superprodução da década de 90". Várias cenas foram gravadas em Minas Gerais, mostrando a natureza de rara beleza da região da chapada da Diamantina. Mais uma vez algumas das armas utilizadas para chamar a atenção do público foram o  erotismo e a forte retratação histórica, com a tradicional riqueza de detalhes das produções de época da Manchete. Para tanto, a emissora investiria em torno de 6 milhões de dólares e uma cidade cenográfica foi erguida em Maricá, onde estaria retratada a cidade do "Arraial do Tijuco".

Tudo pronto para o início das gravações e ainda faltava um importante detalhe: a escolha da protagonista. Depois de uma rigorosa seleção por todo o país, o diretor descobriu que sua "Xica da Silva" estava ali mesmo, dentro da emissora. Tratava-se de Taís Araújo, que terminava as gravações de "Tocaia Grande", onde vivia a personagem Bernarda.

Mesmo muito nova para o papel(a moça tinha 17, enquanto a personagem tinha por volta de 25), Taís surpreendeu, ganhando projeção nacional e sendo reconhecida pela crítica. No papel de sua mãe estava Zezé Mota, que vivera, nos anos 70, a Xica do cinema.

Xica da Silva teve médias em torno dos 18 pontos, com picos de 22, garantindo o segundo lugar de audiência, e recolocando a Manchete na terceira posição do ranking geral da TV Brasileira. A novela foi exportada para diversos países.

Um dos fortes momentos da novela aparece quando Maria, mãe de Xica, é morta, tendo seus braços e pernas amarrados a quatro cavalos que, assutados por um tiro disparado pelo sargento-mor, correm em direções contráias, esquartejando o corpo da negra em plena praça pública. Além dessa, as cenas que envolviam as bruxarias de Benvinda(Miriam Pires) e Violante(Drica Moraes) também não economizaram em tecnologia e realismo.


Abertura original da novela
As protagonistas deram um show à parte. A antagonista branca e amargurada Violante, foi interpretada de forma exemplar por Drica Moraes, que com o papel, provou não saber fazer apenas comédia. A protagonista negra também foi interpretada com brilhantismo por Taís Araújo, que surpreendeu a todos, sendo, até então, uma atriz deconhecida para muitos.

As cenas de nudez ganharam destaque na trama. Adriane Galisteu foi quem mais apareceu nessa condição. Sua personagem Clara vivia semi-despida perambulando pelos riachos da chapada. Taís Araújo, por sua vez, durante alguns meses não tinha idade sufieciente para aparecer nua. Mas quando ela fez 18 anos, Wlalter Avancinni comemorou, e o assunto foi, inclusive, capa da revista Manchete ("Xica da Silva faz 18 anos").

A novela contava ainda com um enorme clima de suspense por trás das câmeras. O diretor Walter Acancinni escondeu, durante muito tempo, a identidade do autor da novela. Especulava-se, na época, que poderia ser algum autor famoso de outra emissora, que estaria usando o pseudônimo de Adamo Angel. O suspese começou porque ninguém nunca tinha ouvido falar no tal autor, e a qualidade do texto demonstada intrigava os profissionais do setor. A identidade só foi revelada meses depois. da estréia. Adamo era, na realidade, Walcyr Carrasco, funcionário do SBT, que acabou sendo recontratado pela emissora de Silvio Santos como autor titular de novelas, lançando em 1998 a novela Fascinação (com Regiane Alves).

"Xica" chegou ao fim no dia 18 de agosto de 1997, ficando ao todo por 11 meses no ar. Contou ainda com participações especiais, como a da atriz italiana Cicciolina, além de Sérgio Viotti, Sérgio Brito, Lu Grimaldi e Ângela Leal, entre outros.


Clipe de relançamento de Xica da Silva, pelo SBT em 2005
A novela foi comprada pelo SBT em 2004, das mãos de Pedro Jack Kapeller, que ainda possuia boa parte do acervo da Manchete em seu poder. Os programas produzidos a partir de 1995 pertencial teoricamente à Bloch Som & Imagem, uma empresa que não foi à falência com a TV Manchete. Silvio Santos recorreu a novela da Manchete para tentar frear o crescimento da Record, que fazia sucesso com a novela Escrava Isaura. Xica foi reexibida na faixa das 21h15 e alavancou a audiência do canal com médias de 15 pontos, garantindo o segundo lugar isolado. O canal tentou camuflar a informação de que a novela tinha sido produzida por outra emissora, e relançou a novela com uma nova abertura e uma nova música-tema.

Tocaia Grande 

Cena de Tocaia Grande Tocaia grande estreou no dia 16 de Outubro de 1995 e terminou quase um ano depois, no dia 16 de setembro de 1996. Adolpho Bloch apostou na novela e desembolsou cerca de 8 milhões iniciais na confecção de figurinos, cenários, construção de uma cidade cenográfica (em Maricá, RJ), e novos profissionais. Era a esperança do empresário para voltar a produzir grandes novelas e alavancar a audiência da Manchete.

Baseada no livro de Jorge Amado, e dirigida por Régis Cardoso, a novela começava a ser produzida. As cenas externas eram gravadas na cidade cenográfica de Maricá, onde a Itabuna dos anos 20 estava fielmente retratada. As internas eram geradas do Complexo de Água Gradnde, onde estavam montandos mais de 80 cenários para a superprodução.

A Itabuna dos anos XX foi fielmente retratada pelo Departamento de Engenharia da Manchete. 120 funcionários trabalharam pesado e ergueram a cidade no tempo récorde de 70 dias.

A novela estreou com barulho, mas não obteve os resultados que Bloch imaginava. Com uma audiência presa nos 3 pontos e descontente com os resultados, Adolpho resolve trocar o diretor da trama. Com dois meses de exibição, Walter Avancinni assumia o controle da novela e, de imediato, chamou Walter George Durst para chefiar o time de roteiristas.

Pouco depois de contratar Avancinni, Adolpho Bloch falecia.

As primeiras providências do novo diretor foram rápidas. De uma vez só Avancinni agilizou a história, trouxe vários personagens e acabou com outros, "enxugando" o elenco da novela - que possuia cerca de 74 personagens. Além disso, deu boas pitadas de erotismo às cenas. Uma série de jovens atores entrava na história, como por exemplo, Carla Regina, Joana Limaverde e Ana Cecília.

Os resultados vieram rápido. A novela ficou com uma aidiência de 10 pontos em média, com chegava frequentemente a 12.

Além disso, a novela contava ainda com algumas participações especiais, como a da atriz Patrícia Luchesi. Merece destaque ainda Mírian Pires, que viveu a esposa de Boaventura Amaral. Dalton Vigh viveu Venturinha. Joana Limaverde interpretou Buriti, outra prostituta que se apaixona por um Turco. E Carla Regina fazia parte dos novos moradores da cidade de Tocaia Grande.

De um modo geral, o rendimento da novela foi bom. Considerando que esta era praticamente a primeira novela de uma emissora que não as fazia há muito tempo, a novela teve sua audiência justa. Os 22 pontos sonhados por Adolpho Bloch não poderiam ser conseguidos, pois, nessa época, a Manchete não tinha mais um público cativo. Era necessário "reatrair" esse telespectador, para que ele voltasse a confiar na emissora e se fixasse novamente nela. Quando "Xica da Silva" estreou, teve uma audiência de 17 pontos, só conseguido através do público que assistia "Tocaia". A novela também significou a volta dos faturamentos e créditos ao canal. Durante os 11 meses que esteve no ar, vários programas começararam a ser produzidos e, no final da novela, a programação da Manchete já era bem diferente da de outubro de 95.

74.5 - Uma Onda no Ar


Logotipo de 74,5 - Uma Onda no Ar. Produção independente da TV Plus, apresentada pela TV Manchete.

A novela foi criticada na época pelo título: a freqüência não existe em rádio comercial (vai de 87.8 a 107.9)

Do dia 24 de junho até o dia 18 de julho de 1994, a Manchete parou de apresentar os capítulos inéditos da novela e passou a levar ao ar os capítulos já exibidos em forma compacta. Isso aconteceu porque a Manchete não pôde exibir os jogos da Copa do Mundo naquele ano e não queria prejudicar a novela (os horários dos jogos coincidiam com os da novela).

O ator Paulo Autran desistiu de fazer a novela na última hora. Autran iria viver Álvaro, e foi substituído pelo diretor Cecil Thiré (o orçamento era pequeno, e não era possível contratar outro ator). Cecil foi avô da personagem de Letícia Sabatella, apesar de em 1994 o ator ter 50 anos enquanto Letícia tinha, 22.

Guerra sem Fim: Mergulhando no submundo do crime


A censura judicial da novela O Marajá na véspera da estreia da novela, forçou a emissora a produzir a toque de caixa a sinopse de Guerra Sem Fim, uma novela-reportagem de José Louzeiro, focada em também um assunto bombástico e pertinente à epoca: o submundo do Comando Vermelho (CV), organização criminosa que supostamente comandava o crime organizado no Rio de Janeiro dos anos 90. A novela contava exatamente com o mesmo elenco de O Marajá.


Alexandre Borges era o chefão do tráfico na novela
Essa novela mostrou uma garra admirável de uma equipe que trabalhou com recursos baixos, mas cheia de vontade. No entanto, nem a garra, nem a mágoa conseguiram trazer um espetáculo memorável aos telespectadores. Pelo contrário: a história dos problemas de segurança no Rio de Janeiro, com morros povoados de bandidos e policiais em luta armada, apresentou um dos climas mais negativos da televisão brasileira.

A equipe tinha que pedir permissão aos traficantes que comandavam as locações para gravar em horários determinados.

No último capítulo, apesar das polêmicas, os autores fizeram a união de Monarca (Hélcio Magalhães) e Viúva Negra (Paulão Barbosa), os homossexuais da trama.
Parte das cenas foram gravadas nos saguões e escritórios dos dois prédios da Manchete, no Rio de Janeiro, como medida de economia. Em um deles ficava o escritório do traficante Monarca (Hélcio Magalhães), e a casa de Lili Marlene (Lúcia Alves), mãe de Flávia (Júlia Lemertz), ocupava o outro. As externas eram gravadas no morro da Mangueira.
Júlia Lemertz e Alexandre Borges fizeram um par romântico nessa novela que se repetiria na vida real.

Foi o último trabalho do ator Rúbens Corrêa, que morreria no ano seguinte.

O Desafio de produzir uma novela sobre o tráfico de drogas em plena favela carioca

Louzeiro, que iniciou sua vida profissional como repórter policial, colheu depoimentos de autoridades das polícias Militar e Civil e também dos dirigentes reconhecidos do Comando Vermelho, como José Carlos do Reis Encina, o "Escadinha" e José Carlos Gregório, o "Gordo", que chefiaram a organização de dentro do presídio de segurança máxima Bangu I. José Louzeiro concluiu que o Comando Vermelho foi um "mito" criado por gente "muito poderosa" e que garantia que os depoimentos colhidos apresentam "revelações surpreendentes", que não adianta quais sejam.

A idéia de escrever sobre o Comando Vermelho para a televisão é antiga, conta José Louzeiro, e ganhou corpo a partir de uma série de artigos que vem escrevendo para um jornal carioca. Por causa destes artigos, visitou Bangu I para conversar com "Escadinha" e "Gordo". "Fui recebido com reticências no início, mas consegui vencer a resistência e por fim ouvi coisas surpreendentes", revela.

Louzeiro começou o trabalho com uma pergunta pré-formulada (e que está na reflexão de qualquer pessoa que pense a questão do crime organizado no Rio de Janeiro): será o Comando Vermelho efetivamente uma organização toda-poderosa, ou haverá acima dele uma estrutura controladora, chefiada por "big bosses" que jamais aparecem?

Surpreendentemente, o escritor ouviu a resposta positiva do subcomandante da polícia Militar, coronel Jorge da Silva: "O CV é comandado por gente de muito poder e muito dinheiro, que banca os seqüestros, o tráfico de drogas, o tráfico de crianças, o contrabando. `Escadinha’ e seus comparsas não teriam condições de financiar estas atividades. O Comando Vermelho é um mito criado por estes poderosos para atribuir a terceiros a responsabilidade pelos crimes", disse o militar, segundo Louzeiro.

O autor pretendia imprimir à série do CV a mesma linha que combina dramaturgia e jornalismo usada em "O Marajá". Ele voltaria à Bangu I para filmar entrevistas com "Escadinha" e "Gordo". Os teipes serão alternados com cenas de ficção e outras dos arquivos da TV Manchete.

O escritor conversou com o ex-delegado e atual deputado estadual Sivuca - eleito com o lema "bandido bom é bandido morto" - que lhe revelou as cifras movimentadas pelo crime organizado no Rio. São números impressionantes, adianta. Impressionante, também, é outra conclusão: "a polícia está envolvida em 11 de cada dez crimes cometidos no Estado", avalia Louzeiro, para quem a televisão precisa deixar de ser uma "brincadeira televisiva" e passar a "refletir a realidade". Ele não teme o tema delicado. "Há muitos anos escrevi "Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia", recebi ameaças, mas estou aqui, diz.

A novela sobre o Comando Vermelho deveria ter um narrador como condutor da história. Como a intenção era de que fosse ao ar somente em janeiro de 1994, nao há ainda atores escolhidos, mas o autor pensa em Alexandre Borges, Ivan Setta, Jonas Bloch e Julia Lemmertz. Se fosse mantida a interdição de "O Marajá", José Louzeiro convocaria outros escritores para acelerar a produção da nova trama que já tinha titulo definido: Guerra sem Fim.

O Marajá - A novela proibida


Logomarca Oficial da novela ''O Marajá'', produzida pela TV Manchete em 1993 e censurada por Collor! Minissérie da Manchete que contava, em tom de sátira, como foi o impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, que acontecera um ano antes, em agosto de 1992. Proibida de ir ao ar pelo próprio presidente, que se sentiu ofendido pelo texto, as fitas "sumiram" da emissora.

Cada personagem aludia a um personagem da vida real: André (Alexandre Borges) ao piloto de P.C. Farias, Jorge Bandeira; o motorista (José Dumont) ao motorista de Collor, Eriberto França; Felícia (Jussara Freire) à Denilma Bulhões, ex-mulher do ex-governador de Alagoas; a "certa atriz de coxas grossas" (Lúcia Canário) à atriz Cláudia Raia, que apoiou ostensivamente Collor em 1989. O próprio "Plano 2020" era uma referência ao "Plano 2000" que pretendia manter Collor no poder por mais 5 anos (na minissérie são 30 anos).

Prevendo que haveria processos por parte de Collor, Adolpho Bloch, o presidente da Manchete, contratou uma advogada para auxiliar os autores José Louzeiro, Regina Braga e Alexandre Lydia na tarefa de escrever a história, evitando complicações com a Justiça. Assim, Collor virou Elle. O personagem é o presidente de um país fictício que arma um esquema para se manter no poder por 30 anos. "Era um conceito revolucionário. Uma mistura de jornalismo com dramaturgia. Apresentávamos uma cena inacreditável e depois provávamos a veracidade com um depoimento", diz Louzeiro.

Mesmo com todo o cuidado e auxílio jurídico, a estréia, marcada para 26 de julho de 1993, não aconteceu. O Marajá foi proibida. O ex-presidente alegou que considerava sua honra arranhada pelas cenas da minissérie. Após meses e uma guerra de liminares, uma decisão judicial favorável a Collor selou o destino da obra. "A história toda nos mostrou que, mesmo depois do impeachment, Collor ainda tem poder, já que foi capaz de censurar uma obra antes de ela ser exibida", lamentou Alexandre Lydia, um dos roteiristas.

Há, até aqui, somente uma pista do paradeiro das fitas. O ex-diretor-geral da Manchete, Fernando Barbosa Lima, afirma que o próprio Adolpho Bloch decidiu guardar as fitas, com medo que elas fossem roubadas, e a Manchete, prejudicada. "Ele ficou assustado com o poder de Collor", conta Barbosa Lima, que era amigo de Bloch.

A história é contada por um narrador, um repentista e uma fofoqueira, na tentativa de se comunicar com públicos diferentes. O resultado é confuso. São idas e vindas entre depoimentos jornalísticos, dramaturgia e os narradores. Embora centrada em Elle, a protagonista de O Marajá é a jornalista Mariana (Júlia Lemertz).

No dia em que O Marajá estrearia, autores, diretores e atores se reuniram num jantar, no prédio da Manchete, no Rio, para esperar juntos, a hora em que o capítulo iria ao ar. Ficaram surpresos com a proibição da exibição da obra.

Júlia Lemertz disse que viveu na época das gravações de O Marajá uma situação kafkiana. "Nós fomos a sessões em que o direito de exibição da novela ia ser julgado e víamos aqueles homens de toga, debatendo, sem que pudéssemos dizer nada. Me senti em plena ditadura", conta. "Foi muito frustrante, porque a defesa da Manchete foi malfeita e, quando eu aceitei o papel, me disseram que a emissora estava calçada juridicamente".

Outro adjetivo veio à mente de Regina Braga, que ajudou José Louzeiro a escrever os primeiros cinco capítulos. "Estou perplexa. A proibição da novela foi uma violência à liberdade de expressão, mas essa história do desaparecimento das fitas foi demais", disse, sem esconder a surpresa. Alexandre Lydia, outro dos autores, ficou decepcionado. "Esse desaparecimento combina com toda a história da proibição da minissérie, que foi muito estranha", afirma. "É um trabalho enorme que fizemos com o maior empenho e nunca foi mostrado", completa.

Marcos Schechtmann, o diretor da minissérie, envolveu-se muito com o projeto na época. "Fomos censurados sem que ninguém visse os capítulos gravados ou escritos", diz. "É óbvio que eu gostaria de ver a minissérie exibida um dia, mas agora é passado, já consegui aceitar".

O ator Hélcio Magalhães, que fez Elle, a sátira de Collor, não escondeu a decepção. "Foi um trabalho de composição minucioso que eu fiz e que ninguém teve a oportunidade de ver".

ESCÂNDALO TRÊS ANOS DEPOIS

Após a morte de Pedro Collor, as fitas da novela desapareceram dos arquivos da Manchete. O escândalo foi denunciado pelo jornal "A Folha de São Paulo". Pedro Jack Kapeller, então presidente da Manchete, afirmou, na época, que Adolpho Bloch teria guardado as fitas em local seguro no momento que a novela foi censurada, em 1993.

Atualmente Hélcio Magalhães trabalha como fotógrafo, pois diz que sua carreira de ator fora muito prejudicada com as comparações ao ex-presidente.